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Texto autoral: Minhas Aulas de Português


Ah, leitor, perdoe-me. 
Ficarás tão entediado lendo estas linhas, quanto eu tentando escrevê-las.

Meu nome é Mayara e o que virá a seguir são minhas memórias da época de menina, nas aulas de português. Você perguntará o que essas lembranças lhe importam. De fato, nada. Para mim... talvez tudo. Se por acaso decidir ler até o fim, desejo-lhe sorte (e, se puder, corrija meus erros de português).

Nunca, nunquinha, nunca mesmo quis ser professora, uma das minhas poucas certezas. Mas, como sabe, a vida é irônica. Adivinhe onde estou? Num curso de licenciatura para lecionar português, inglês e literatura. Eu sei, eu sei, contudo não falemos de hoje, voltemos alguns ciclos educacionais:

Pré / Escolinha: Creio que nessa fase aprendi a ler e escrever, não lembro ao certo. Recordo apenas de ser tão tagarela que a professora me amarrou na cadeira. Eu ria. Sempre fui tão inquieta… Lembro, também, de quando um menino perdeu o dedo na gangorra, mas isso não tem nada a ver com as classes de português, deixemos para outro dia.

Ensino Fundamental I: De primeira a quarta série tive a mesma professora, a qual chamava carinhosamente de tia. Passamos por tantas aventuras… lá tirei o meu primeiro e único I. O assunto da prova era…? Sim, português, mas juro que posso explicar: as questões foram passadas na lousa e eu, em vez de copiá-las, fiquei solucionando mentalmente. Resultado: não terminei de fazer toda a prova. Nessa época, eu era muito lerda para escrever, pois queria que minha letra ficasse bonita. Para tal, usava dois cadernos: um pequeno, onde registrava a matéria com garranchos e outro grande, em que passava a limpo as anotações da aula com minha caligrafia trabalhada. Levava horas, minha mãe ditava e eu escrevia, o que melhorou muito meu português, tenho que admitir. Esse esquema permaneceu por alguns anos e, às vezes ainda utilizo (como agora, em que rabisco este texto). Acha loucura? Ah, leitor, isso não é nada. As aulas eram ótimas, amava escrever histórias e poesias. Aqui decidi ser atriz.

Ensino Fundamental II: E o que ser atriz tem a ver com as aulas de português? Tudo. Os livros sempre foram uma constante em minha vida, tanto na escola quanto fora dela. Eu gostava de ser aqueles personagens, de sentir o que eles sentiam e a minha escrita só aumentava esse amor. Eu… esqueça, não vale seu tempo. Continuemos: no fundamental a gramática apareceu sem camuflagem ou brincadeira. Odiosa gramática necessária que me fazia querer aprender latim. Sim, com 13 anos queria saber latim para melhor compreender o português e, assim, aprimorar minha escrita. Abracei a ideia de ser escritora. O que enchia os olhos era a literatura. Destacava-me na arte de fazer resumos. Páginas tornavam-se linhas.

Ensino Médio: Há tantas lacunas em minha memória, amigo. Acho que, para mim, o ensino médio foi o mais marcante. Três longos e apaixonantes anos. Aqui minha veia artística prevaleceu até sob as matérias técnicas. Conheci melhor Machado, descobri Marina Colasanti, Jorge Amado e tantos outros nomes. Meu coração estava nos livros. Português, artes e história eram minhas disciplinas favoritas. Meu corpo vibrava a cada novo conto, a cada novo autor. Encarava a gramática da mesma forma que hoje: necessária. Meu prêmio era a literatura. Lembro da primeira vez que li Dom Casmurro, Capitães da Areia… Meu professor trouxe as obras ao linguajar juvenil, aguçando a curiosidade de toda a turma. Uma vez nos passou de tarefa a criação de um conto. O prazo para entrega era extenso, havíamos tido várias aulas para escrever. Aulas que usei para desenhar, confesso. Meu conto desenrolou na madrugada limite. Arriscado, não acha? Tenho tantas memórias das aulas deste meu professor… ele costumava dizer que eu fazia sexo com os livros. Acho que fazia, tamanho prazer que tinha com a leitura. Não se envergonhe, leitor. Eu amava os livros e os preferia a namorar. Saiba que depois me apaixonei e casei com um livro ambulante, então, de certa forma, meu professor estava certo. Há algo importante sobre o ensino médio: ministrei aulas voluntárias de português e redação para alunos do oitavo ano. Essa foi a prova que precisava para confirmar minhas opiniões. Eu nunca seria professora. Acredita que ensinei quando usar letra maiúscula? Alguns erravam a escrita do próprio nome. Recusei-me a corrigir as redações dos estudantes, pois tinham tantas falhas que minha vontade era amassar e fazê-los engolir. Sem contar que aquelas pestes não paravam de conversar. Eu queria esganá-las. Fique indignado se quiser, leitor, mas quem nunca desejou atirar o apagador na testa de um mau aluno que atire o primeiro giz em mim.

Cursinhos: Não falo dos cursos de idiomas estrangeiros, embora tenha muitas histórias sobre estes. Fiz curso de português duas vezes em ocasiões diferentes: primeiro pra entrar no ensino médio técnico e, depois, para o concurso da Força Aérea. As aulas eram gramática e mais gramática. Eu amava o professor, calmo, objetivo, ensinava exatamente o necessário para as provas. Devo tanto a esse professor, a tantos professores… Nestas minhas últimas férias fui visitá-lo. A foto de meu casamento estava em seu armário de lembranças dos ex-alunos. Meu coração se alegrou tanto!!! Verdade. Perdoe, leitor, estou indo além da proposta desta narração. É que meu lado romancista às vezes desbanca a razão. Voltemos às classes de português.

Faculdade: Chegamos aos dias atuais. Aposto que deseja saber como acabei num curso de Licenciatura em Letras. Infelizmente ficará curioso, meu amigo. Isto é papo pra outro dia, agora falaremos da minha tristeza por não ter latim na faculdade em que estou. Sinceramente, não senti tanto, só sou meio dramática mesmo. Não posso me queixar das professoras de português, são excelentes. Mas, você sabe, é a literatura que desarreiga de minha alma a paz e o riso. Aqui tenho um banquete literário. Hum! Recomendo. Contudo, caro amigo, encerrarei este texto agora. Ainda estou vivendo essa etapa e, por isso, deixarei as lembranças só pra mim, ao menos por ora.

Há só mais um tópico que precisa saber: meu avô era historiador. Publicou 12 livros e, embora tenhamos interesses diferentes, é minha grande inspiração. Meu tio foi um dos professores de português mais renomados de minha cidade. Minha mãe me incentivou a ler e escrever desde sempre. Acredito que, por isso, nas aulas de português (principalmente de Literatura), sinto-me viva e tudo a meus olhos, tudo sorri.

Curiosidade: Sempre que presto ENEM, minha maior média é de matemática.



* BASSANELLI, Mayara. Minhas Aulas de Português.
Texto escrito para a disciplina de Fundamentos do Ensino de Língua Portuguesa, sob a proposta de relembrar os ensinamentos de português ao longo da vida escolar. Utilizei os ciclos educacionais anteriores aos vigentes atualmente. Entrega do trabalho: 29 de julho de 2019. 

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