Morte, Juízo, Inferno e Paraíso
Em que estado, meu bem, por ti me vejo,
Em que estado infeliz, penoso e duro! Delido o coração de um fogo impuro, Meus pesados grilhões adoro e beijo.
Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro; Quando mo juras mais, menos seguro Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.
Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d’alma a paz e o riso, Sendo só meu sustento os meus cuidados;
E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.
- Bocage
| Vocabulário*:
delido: o mesmo que apagado, desfeito
grilhões: cordão grosso de metal, que se usa no pescoço; o que prende; tira a liberdade; laço, prisão, algemas
logro: ganho ou lucro
pejo: pudor, vergonha, timidez; aquilo que atrapalha, estorvo, impedimento
fados: destino, sina, sorte; forças misteriosas que se supõe dirigirem o destino
desarreigam: o mesmo que erradicam, arrancam, extirpam
siso: juízo, tino, bom senso
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Interpretando o Texto:
Primeira Estrofe: O eu lírico explica a difícil situação em que vive devido os sentimentos que seu amor lhe desperta ("Em que estado, meu bem, por ti me vejo"). Ao mesmo tempo em que isso lhe causa sofrimento, o prende de tal maneira que lhe dá prazer, como expresso em "Meus pesados grilhões adoro e beijo".
Segunda Estrofe: "Quando te logro mais, mais te desejo;" - Os próximos versos retratam a evolução da paixão: quanto mais tem contato com a pessoa amada, mais quer provar desse doce ligação.
Terceira Estrofe: Sua vida e seu destino resumem-se ao ato de amar ("Assim passo, assim vivo, assim meus fados / Me desarreigam d'alma a paz e o riso"). Este sentimento, ao qual se diz responsável, lhe dá alegria na mesma proporção que lhe tira do sério.
Quarta Estrofe: Já não age mais com prudência, devido a profundidade de seu sentimento. Agora a "Morte, Juízo, Inferno e Paraíso", grandes questões que atormentam a humanidade, não lhe importam e, mesmo sabendo dos riscos que corre "(ai de mim!)", o eu lírico decide perder-se neste amor.
Segunda Estrofe: "Quando te logro mais, mais te desejo;" - Os próximos versos retratam a evolução da paixão: quanto mais tem contato com a pessoa amada, mais quer provar desse doce ligação.
Terceira Estrofe: Sua vida e seu destino resumem-se ao ato de amar ("Assim passo, assim vivo, assim meus fados / Me desarreigam d'alma a paz e o riso"). Este sentimento, ao qual se diz responsável, lhe dá alegria na mesma proporção que lhe tira do sério.
Quarta Estrofe: Já não age mais com prudência, devido a profundidade de seu sentimento. Agora a "Morte, Juízo, Inferno e Paraíso", grandes questões que atormentam a humanidade, não lhe importam e, mesmo sabendo dos riscos que corre "(ai de mim!)", o eu lírico decide perder-se neste amor.
Ficha Técnica:
Total de estrofes: 4 ( 2 quadra e 2 tercetos - soneto )
Versos: decassílabos
Sequência de rimas: ABBA ABBA CDC DCD
Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1756, em Setúbal, filho de uma boa família. Sua influência poética possivelmente veio de sua tia-avó, famosa poetisa da época, e de seu pai, um voraz leitor. Em 1783 entrou para a Academia Real dos Guardas-Marinhas. Entregou-se à vida boêmia, arrependendo-se mais tarde. Era admirador do trabalho de Camões, sendo Bocage um dos mais importantes nomes do Arcadismo português.
Versos: decassílabos
Sequência de rimas: ABBA ABBA CDC DCD
*Definições das palavras do vocabulário foram retiradas da Infopédia (Dicionários Porto Editora) e do Dicionário Online de Português.
Poema Morte, Juízo, Inferno e Paraíso. Disponível em: <https://poesia-portuguesa.com/manuel-bocage/morte-juizo-inferno-e-paraiso/>
Manuel Maria Barbosa du Bocage - Poemas. Disponível em: <http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/bocage.html>
Poema Morte, Juízo, Inferno e Paraíso. Disponível em: <https://poesia-portuguesa.com/manuel-bocage/morte-juizo-inferno-e-paraiso/>
Manuel Maria Barbosa du Bocage - Poemas. Disponível em: <http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/bocage.html>
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