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Conhecendo "Nascemos para amar", de Bocage


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>  Sempre achei que nasci para comer, mas se Bocage diz que "Nascemos para amar", então fui trazida ao mundo para amar muito frango frito 😉


Nascemos para amar
Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

- Bocage


Vocabulário 
enlear: ligar, prender; enredar; perturbar, confundir
lôbregas: escuras, sombrias; medonhas; tristes
porfia: discussão; disputa; obstinação; teima


Ficha Técnica
Total de estrofes: 4 ( 2 quadras e 2 tercetos - soneto )
Versos: decassílabos
Sequência de rimas: ABBA ABBA CDC DCD


Interpretando o Texto: 
Quando o eu lírico alega que "Nascemos para amar", não consigo deixar de pensar no amor como um fado em nossas vidas. Como uma tragédia grega de destino irremediável, o amor, para o ser humano, não pode ser evitado.
"Nascemos para amar" também denota um objetivo: não só estamos destinados a este sentimento, como fomos feitos para ele. Que fique claro que não me refiro aos fatores biológicos relacionados às relações para procriação, pois não considero sexo sinônimo de amor. Falo desse "[...] doce atractivo, ó Formosura, Que encanta, que seduz, que persuade." e que buscamos em cada esquina, em cada sorriso, em cada personagem de um livro... 
Quantas loucuras já ouvimos serem feitas em nome desse tal de Amor? Ao mesmo tempo que pode propiciar momentos felizes, é capaz de causar a maior das dores. Dualidade essa que o eu lírico deixa bem clara em seus versos.
Para ser sincera, ainda não cheguei a uma conclusão se o poema apresenta uma visão positiva em relação ao amor (talvez esse nem seja o x da questão, já que elucida a normalidade do ato de amar e suas diferentes interpretações). A última estrofe sempre me intriga: "Amor ou desfalece, ou pára, ou corre: E, segundo as diversas naturezas, Um porfia, este esquece, aquele morre."
Queria o eu lírico dizer que esse sentimento é findo? Mas, se nascemos para amar, isso não quer dizer que acabando um amor, iremos procurar outro? Então o amor nunca termina ou é a sua busca??
Talvez eu tenha perdido o fio da meada, mas vejo uma verdade universal nas palavras de Bocage: uma hora ou outra cairemos no laço/garras do amor, se isso será uma desventura ou não, dependerá de cada pessoa, contudo, o que nunca mudará será essa "paixão que na alma se apura" e dá esperança ao nosso coração.


OBS.: 
A primeira vez que interpretei este poema, concluí que: "segundo as diversas naturezas", o amor pode persistir, desistir ou desaparecer, mas nunca deixar de existir, pois "Nascemos para amar".


Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1756, em Setúbal, filho de uma boa família. Sua influência poética possivelmente veio de sua tia-avó, famosa poetisa da época, e de seu pai, um voraz leitor. Em 1783 entrou para a Academia Real dos Guardas-Marinhas. Entregou-se à vida boêmia, arrependendo-se mais tarde. Era admirador do trabalho de Camões, sendo Bocage um dos mais importantes nomes do Arcadismo português.


>>>  Gosta de poemas que falam de Amor? Então conheça: "Poema do Fanático", de Murilo Mendes e "Amar", de Carlos Drummond de Andrade. 


*Definições das palavras do vocabulário retiradas da Infopédia (Dicionários Porto Editora) e do Dicionário Online de Português.

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