> Nós sabíamos que não seria para sempre.
E mesmo eu já tento pensado tantas vezes, neguei a
possibilidade. O que eu faço agora que quero ligar
para você, contar todas as fofocas e discutir sobre
uma decisão que tomei? Eu pretendo gritar para o
céu, espero que escute.
Por que fez eu me apaixonar pelo Felizes para
Sempre se o meu sempre não terá mais você? Eu
entendo que foi o melhor, sua saúde não estava boa,
mas sou egoísta demais para aceitar sem fazer drama.
Sinto tantas coisas que não sei explicar ao certo.
Há culpa por não ter percebido antes que algo estava
errado, há um vazio pela ausência que faz com que eu
sofra como se tivesse sido traída (talvez por ter
sido tão inesperado). Muita tristeza acumulada e uma
faca em minha garganta que permite que a raiva me
consuma. Sinto ódio de mim, de você por ter partido
e novamente de mim. Eu queria poder lhe dar mil
coisas, mas desisti e acabei perdendo a chance.
Apesar de tudo, você foi feliz? Eu fui uma filha que
lhe deu alegria? O Gordo diz que sim e eu pretendo
me agarrar nessa ideia, desculpe. Queria ter
agradecido mais, ter lhe chamado repetidas vezes de
mãe, ter dito infinitamente o quanto te amo.
Perdoe-me. Acho que agora preciso confessar um
delito. Prometo que não lhe usarei mais como
desculpa. Desde que você se foi venho me punindo.
Sei que não gostaria, contudo foi a única forma de
lidar com seu sumiço. Não se preocupe, pretendo não
adiar mais, cansei que Maya seja apenas ilusão.
Quero ser a sua Mayara e que o mundo todo possa
conhecer a filha inteligente e criativa que você
criou. Porque todo esforço feito por você e pelo
Gordo não foi para que eu me tornasse dona de casa e
sim para que dominasse o mundo. Desistir não era uma
das lições que me ensinou e, embora eu tenha feito
isso repetidas vezes, tentarei focar no que
realmente importa.
Saiba que cada conquista minha é graças à base sólida que tive quando
criança. Tudo que sou e decido tem um dedo da minha Madrinha e
sei que, apesar de seu tempo ao meu lado ter acabado e eu não possa vê-la,
sua presença ainda é viva. Aqui dentro e em cada escolha
que faço. Porque eu sei que você me amou tanto quanto eu te amo.
Tenho orgulho de ser sua filha (única). Já no final
deste texto, sinto-me como aquela garotinha de 4 anos que ouviu a pergunta:
"Mayara, quer morar com a Madrinha?". Dei-lhe a
mão e enfiamos minhas gavetas no carro. Eu não hesitei.
Permaneço aquela baixinha sortuda que pode segurar sua
mão e lhe chamar de Mãe.
Para todo nosso sempre. Te amo!
❤️😭😢😚🥰❤️🥰😚😢😭❤️
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
- Carlos Drummond de Andrade
>>> Assistam a leitura que fiz (tem outro desabafo ao final do
vídeo):
Carlos Drummond de Andrade foi um dos grandes
escritores do período do modernismo brasileiro.
Nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira do
Mato Dentro (interior de Minas Gerais). Publicou
seus primeiros trabalhos no Diário de Minas, em
1921. Apesar de ter se formado em Farmácia na
Escola de Odontologia e Farmácia de Belo
Horizonte, não exerceu a profissão, trabalhando
como professor no Ginásio Sul-Americano de
Itabira. Seu primeiro livro "Alguma Poesia" foi
publicado em 1930, sendo precursor da chamada
"poesia de 30". Drummond faleceu no Rio de
Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987.
Andrade, Carlos Drummond de. Para Sempre. Disponível em:
<https://www.escritas.org/pt/t/10946/para-sempre>
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