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Chega Chegando: "Para sempre", de Carlos Drummond de Andrade

 

>  Nós sabíamos que não seria para sempre. 

E mesmo eu já tento pensado tantas vezes, neguei a possibilidade. O que eu faço agora que quero ligar para você, contar todas as fofocas e discutir sobre uma decisão que tomei? Eu pretendo gritar para o céu, espero que escute. 

Por que fez eu me apaixonar pelo Felizes para Sempre se o meu sempre não terá mais você? Eu entendo que foi o melhor, sua saúde não estava boa, mas sou egoísta demais para aceitar sem fazer drama. Sinto tantas coisas que não sei explicar ao certo. Há culpa por não ter percebido antes que algo estava errado, há um vazio pela ausência que faz com que eu sofra como se tivesse sido traída (talvez por ter sido tão inesperado). Muita tristeza acumulada e uma faca em minha garganta que permite que a raiva me consuma. Sinto ódio de mim, de você por ter partido e novamente de mim. Eu queria poder lhe dar mil coisas, mas desisti e acabei perdendo a chance. Apesar de tudo, você foi feliz? Eu fui uma filha que lhe deu alegria? O Gordo diz que sim e eu pretendo me agarrar nessa ideia, desculpe. Queria ter agradecido mais, ter lhe chamado repetidas vezes de mãe, ter dito infinitamente o quanto te amo.

Perdoe-me. Acho que agora preciso confessar um delito.  Prometo que não lhe usarei mais como desculpa. Desde que você se foi venho me punindo. Sei que não gostaria, contudo foi a única forma de lidar com seu sumiço. Não se preocupe, pretendo não adiar mais, cansei que Maya seja apenas ilusão. Quero ser a sua Mayara e que o mundo todo possa conhecer a filha inteligente e criativa que você criou. Porque todo esforço feito por você e pelo Gordo não foi para que eu me tornasse dona de casa e sim para que dominasse o mundo. Desistir não era uma das lições que me ensinou e, embora eu tenha feito isso repetidas vezes, tentarei focar no que realmente importa.

Saiba que cada conquista minha é graças à base sólida que tive quando criança. Tudo que sou e decido tem um dedo da minha Madrinha e sei que, apesar de seu tempo ao meu lado ter acabado e eu não possa vê-la, sua presença ainda é viva. Aqui dentro e em cada escolha que faço. Porque eu sei que você me amou tanto quanto eu te amo. Tenho orgulho de ser sua filha (única). Já no final deste texto, sinto-me como aquela garotinha de 4 anos que ouviu a pergunta: "Mayara, quer morar com a Madrinha?". Dei-lhe a mão e enfiamos minhas gavetas no carro. Eu não hesitei. Permaneço aquela baixinha sortuda que pode segurar sua mão e lhe chamar de Mãe. Para todo nosso sempre. Te amo!


❤️😭😢😚🥰❤️🥰😚😢😭❤️



>  Adiei o desabafo durante um mês quase, até os dias se tornarem insuportáveis. A escrita sempre foi o meu porto seguro, então quis compartilhar com vocês um pouquinho da loucura que venho sentindo desde o falecimento da minha mãe, em janeiro. Gostaria, também, de apresentar o poema "Para Sempre", de Carlos Drummond de Andrade. São palavras lindas e que refletem bem os questionamentos que fiz. Espero que apreciem, assim como lembrem sempre de amar e agradecer àqueles que criaram vocês. Não tenha vergonha de expressar seus sentimentos, seja verdadeiro ao que sente (antes que perca quem lhe é especial).



Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
- Carlos Drummond de Andrade



>>>  Assistam a leitura que fiz (tem outro desabafo ao final do vídeo):




Carlos Drummond de Andrade foi um dos grandes escritores do período do modernismo brasileiro. Nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro (interior de Minas Gerais). Publicou seus primeiros trabalhos no Diário de Minas, em 1921. Apesar de ter se formado em Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, não exerceu a profissão, trabalhando como professor no Ginásio Sul-Americano de Itabira. Seu primeiro livro "Alguma Poesia" foi publicado em 1930, sendo precursor da chamada "poesia de 30". Drummond faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987.



Andrade, Carlos Drummond de. Para Sempre. Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/t/10946/para-sempre>

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