“E elas iriam superar essa confusão, juntas. Elas iriam
resolver tudo sem precisar envolver mais ninguém. Nem a
escola, nem a polícia, nem homem nenhum. Exatamente como
Saffie queria.
De mulher para mulher.
De mãe para mãe.
De mãe especial para mãe especial.”
- Página 65.
Dados Técnicos
Autora: Penny Hancock
Tradução: Davi Boaventura
Editora Dublinense Ltda., 2021
Personagens
Ao longo da história são apresentadas várias pessoas conectadas à família
de Holly e Jules, algumas delas vindas do passado e, outras, vizinhos da
cidade onde moram. Vou listar somente os parentes mais próximos das
protagonistas (os demais personagens vocês conhecerão ao ler o livro
😉):
Família da Jules
Saffie: filha da Jules; tem 13 anos e seu corpo já começou a se desenvolver, fazendo-a se destacar entre as amigas. É muito cobrada pelo pai, tendo que fazer aulas extras (seus pais sempre desejaram ter muitos filhos, contudo não conseguiram; toda a pressão acabou sendo jogada em cima da menina).
Rowan: esposo de Jules e pai da Saffie; tem 40 anos e seu temperamento é um tanto instável, para dizer o mínimo (ele já precisou fazer curso de controle de raiva); foi demitido da empresa de softwares em que trabalhava, mas continuou mantendo seu padrão alto de vida.
“Jules suspirou e, por cima dos ombros de Saffie, olhou os livros infantis e as revistas adolescentes amontoados na estante da filha. lembrou de uma frase que há décadas não ouvia ninguém falar: Muito velha pra ser criança, muito nova pra ser adulta. O que foi que aconteceu com essa fase na vida das meninas?”
- Página 140.
Família da Holly
Saul: filho da Holly; tem 16 anos, 1,80m de altura e é um pouco desengonçado; sofreu bullying quando mudou de escola, sendo considerado estranho pelos colegas de classe.
Archie: pai de Saul. Foi o primeiro esposo de Holly, mas faleceu quando o filho tinha apenas 10 anos; era advogado.
Pete: casado há 2 anos com a Holly; é um psicoterapeuta com 2 filhas do antigo relacionamento; se dá muito bem com o Saul.
Freya: tem 13 anos e é uma das filhas do Pete; grande amiga da Saffie.
Thea: filha mais nova do Pete, tem apenas 10 anos e adora a Holly.
"Eu não sei quem você é" traz a tona a fragilidade das relações humanas. Diante de uma acusação de estupro, amizades são postas em cheque. Até que ponto você confia e acredita no outro? Até onde você iria para defender sua família? O crime faz com que nossas personagens, conhecidas há anos, duvidem de si mesmas e das pessoas que as cercam.
“Que é um questão que não envolve somente o que o Saul fez ou deixou de fazer com a Saffie. Depois que você me falou, eu passei boa parte da noite acordado e me dei conta de que eu também preciso pensar nos meus pacientes. Na minha reputação profissional. Como você também precisa, na verdade. As pessoas precisam ver que estamos tomando as atitudes corretas.”
- Fala de Pete para Holly, p.135.
A protagonista da história é a Holly, o que percebemos pelo fato dos capítulos com o seu nome serem sempre narrados em primeira pessoa. Nas partes intituladas Jules, temos a presença de um narrador onisciente que acompanha as ações e pensamentos da Jules. Sendo assim, ora o livro foca nos questionamentos de uma amiga, ora na outra.
A maior parte do enredo se passa numa cidade interiorana de Londres, cujas descrições são bem feitas pela autora. O tempo todo vemos as mães (que se intitulam mães especiais uma do filho da outra) tentando encontrar onde erraram na criação para que algo tão brutal pudesse acontecer.
Acho que o que mais assusta o leitor (e a Jules) é o fato de Holly defender o filho, declarando que Saffie mentiu sobre o abuso, pois Saul seria incapaz de atacá-la. Vendo a professora como uma defensora dos direitos da mulher, que sempre administra palestras sobre consentimento, todos esperavam que ela fosse apoiar Saffie, sua filha especial, mas isso não ocorre.
Vemos nessas mais de 400 páginas desenrolar uma luta moral, dividida por memórias retiradas do passado em que as amigas ainda estavam unidas. O tema do abuso é extremamente delicado, assim como suas consequências nas pessoas envolvidas. Pelo menos uma vez na vida, "Eu não sei quem você é" deveria ser lido. Ele não permitirá que seus pensamentos fiquem em paz, irá questionar sua conduta e crenças, o que, para falar a verdade, é algo que torna sua escrita especial e sua leitura, indispensável.
“Ela [Saffie] não tinha a menor ideia do quanto sua acusação era capaz de revelar as placas tectônicas que existiam por baixo de todos os relacionamentos. A relação de Jules com Rowan. A relação de Jules com Holly. A relação de Holly com Pete. Era como se a acusação de Saffie fosse um tsunami que varreu a costa e deixou à mostra toda a sujeira que antes estava escondida.”
- Página 326.
Penny Hancock é jornalista, escritora e professora inglesa. Nasceu em Londres, morou na Itália, na Grécia e em Marrocos, mas atualmente reside na região dos Fenlands, perto de Cambridge. Seus romances são thrillers, embora "Eu não sei quem você é" fuja à regra. Publicou diversos contos e escreveu sobre família e relacionamentos para The Guardian, The Times e The Independent.
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