Numa grande casa, além do bosque, a mais delicada fada repousava no jardim em meio a jasmins e rosas. Tinha o tamanho e aparência de uma cheia de responsabilidades. Seus olhos escuros se destacavam em sua pele pálida, onde seu longo cabelo roçava sem parar por causa da brisa leve da manhã.
De gestos carinhosos para com as flores, bailava com os pássaros e borboletas, festejando o início da primavera. Foi a primeira vez que Baker viu Clarisse, escondido entre as árvores.
Clarissa tinha asas azuis e suas orelhas eram pontiagudas. Já Baker era alto, ombros largos e deformados, rosto cheio de queimaduras e seu objetivo não era fazer o bem, e sim matá-la, pois estava fraco e seu alimento provinha do sangue das fadas. Porém, como acabar com um ser tão puro quanto aquela criatura frágil e graciosa? Detido por um sentimento desconhecido, ele se foi.
Durante dias no mesmo horário ele a visitou em segredo e o mesmo sentimento o dominou.
Numa manhã de chuva Baker foi até o jardim e procurou a jovem, com seu casaco molhado. Ela não estava lá. Então de repente, uma mão o tocou. Sua face ficou fria e petrificada, mas Clarisse insistiu. Ao perceber que era a jovem, uma parte de seu coração enferrujado bateu forte, enquanto a outra sentiu necessidade de torná-la sua refeição.
Desesperado ele fugiu sem nada explicar, com medo de machucar seu amor.
Na tarde do dia seguinte o povoado só falava de uma morte que ocorreu perto do bosque na noite anterior. Curiosa, Clarisse foi olhar o corpo tombado na floresta e tomou um susto ao perceber que era Baker, "o desconhecido que invadiu o jardim", chamava ela. Pensando que teria sido a culpada, pelo susto que lhe dera sem querer, pôs fim a sua vida se sentindo o pior ser do seu mundo. Naquele dia a natureza entristeceu e sua vida de cantigas e brincadeiras nunca mais pode ser ouvida e vista, após o solo sugar os dois corpos e enterrá-los eternamente entre as raízes das árvores, num sono profundo e gélido.
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