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Conhecendo: "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e outros contos", de Washington Irving


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Prontos para Sleepy Hollow?!

Dia das Bruxas chegou e nada melhor do que falar sobre um conto clássico que durante anos assombrou homens e mulheres: a lenda do Cavaleiro sem Cabeça! Já vou avisando que nesse post haverá muito spoiler, então se prepare!

A Editora Wish trouxe, pela primeira vez no Brasil, em uma edição lindíssima, The Legend of Sleepy Hollow, o escrito original de 1820, do autor Washington Irving. Essa história é a origem da tradição estadunidense de entalhar rostos em abóboras no Halloween, você sabia?


Dados Técnicos

Livro: A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e outros contos
Autor: Washington Irving
Edição comemorativa de 200 anos com capa dura e ilustrações

Tradução: Camila Fernandes
Ficção norte-americana, 192 páginas


A obra possui ilustrações de diferentes épocas e pintores, além de outras histórias do Irving: Rip Van Winkle, O Noivo Espectral (E a Cozinha da Estalagem), O Diabo e Tom Walker, dos originais Rip Van Winkle (1819), The Inn Kitchen (1819) e The Spectre Bridegroom (1819), The Devil and Tom Walker (1824), respectivamente.


Diedrich Knickerbocker

Os escritos de Irving nos remetem àquelas conversas de aldeia em volta da fogueira ou perto da lareira de uma cozinha. São contos de tradição oral, regados pelo sobrenatural e que chegam aos nossos ouvidos pela narrativa do historiador Diedrich Knickerbocker.

Mas quem é Diedrich? Ele é um personagem criado pelo Irving e que assina alguns de seus livros. Knickerbocker é holandês-americano e apareceu pela primeira vez como autor de "A História da Nova Iorque do Princípio do Mundo ao Fim da Dinastia Holandesa", de 1809. Muitos dos contos da obra aqui trabalhada, foram apresentados ao público com a autoria do historiador.

O que achei mais interessante é o fato de que ele não presenciou nenhum dos acontecimentos. São histórias que ficou sabendo através de suas viagens, conversando com moradores e visitantes dos diferentes cenários das narrativas. O único protagonista que conheceu pessoalmente foi Rip Van Winkle, como registrou em suas anotações (página 119).


A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça

Fiz um vídeo contando um pouco sobre a história e os personagens lá no nosso canal no YouTube (👇👇👇👇👇👇). Então aqui vou comentar apenas o que achei da lenda: confesso que fiquei um pouco frustrada com o desfecho aberto, o que realmente houve com o Crane??? Minha aposta é que foi uma armação do Abraham (Brom Van Brunt). O garanhão se fantasiou de Cavaleiro sem Cabeça e garantiu que o mestre-escola fugisse de medo, deixando a corrida pela mão da Katrina Van Tassel. Qual a opinião de vocês?



Rip Van Winkle

Serei bem breve (pois quero que vocês se interessem em conhecer a escrita de Irving, que é bem deliciosa): Rip Van Winkle era um homem adorado em sua comunidade, mas que não servia para nada dentro de casa. Seu relacionamento com a esposa era muito conturbado, chegando a ser agredido e sempre xingado pela mulher. Um dia dorme numa montanha e conhece vários homens barbados, de aspecto diferente. Acaba bebendo do licor deles e acordando na mesma montanha, mas 20 anos depois, como um senhorzinho. 


O Noivo Espectral (E a Cozinha da Estalagem)

Aqui é um conto dentro de outro conto. Nosso narrador fica hospedado numa estalagem, à noite, e acaba ouvindo gargalhadas vindas da cozinha. Era um grupo de viajantes trocando histórias, sendo uma delas "O Noivo Espectral".

Acreditem ou não, houve um casamento entre uma mulher e um fantasma na Alemanha. Mas isso é o que todos acharam na época, a verdade é que o noivo prometido havia morrido antes de chegar ao palácio de sua futura noiva (a qual nunca havia tido contato). No caminho encontrou um antigo amigo e pediu que ele avisasse seu sogro sobre o ocorrido.

Mas a menina prometida era muito linda e se apaixonou a primeira vista pelo mensageiro (e ele por ela). Toda família festejou achando que o amigo fosse o noivo, nem dando tempo dele explicar tudo certinho. 

“Não! Não! - respondeu o estranho, com solenidade redobrada. - Meu compromisso não é com a noiva, mas com os vermes! Os vermes me aguardam! Estou morto. Fui morto por ladrões. Meu corpo jaz em Wurtzburg. À meia-noite devo ser enterrado. O túmulo me espera... devo cumprir meu compromisso” 

- Fala do mensageiro antes de ir embora, p.143.

Aconteceu de que toda noite ele aparecia secretamente na janela da menina, a fim de cortejá-la. Resultado: ela fugiu com o "espectro". Toda a família ficou desolada, pensando que o fantasma havia raptado a moça. Passado um tempo, o jovem casal reapareceu para esclarecer toda a história, já entrelaçados pelo matrimônio.



O Diabo e Tom Walker

Vamos simplificar: Tom Walker era um homem pobre que queria mudar de vida de maneira fácil. Resolve fazer um pacto com o diabo, ou como o chamam em sua região, Velho Scratch. Em troca de muita fortuna, daria sua alma e serviria como agiota para os mais necessitados, desgraçando a vida de muitos pobres coitados (alguns que um dia chamara de amigo). Mas os anos se passam e o arrependimento bate. Torna-se um frequentador assíduo da igreja na tentativa de fugir do seu destino. Mas vamos combinar, o karma (ou seja lá como você chama) chega pra todos...


Semelhanças entre os contos

Agora vamos para a parte em que minha mente vaga: os pontos de convergência entre os contos presentes no livro aqui abordado. Vou enfatizar só três:

 A busca pelos atalhos da vida: a maioria dos personagens de Irving deseja melhorar de vida sem fazer esforço (chegando a buscar meios nada honrados para isso). Não concorda? Calma que vou lhe apresentar os fatos: em "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça", Ichabod Crane vê no casamento com a filha do rico Baltus Van Tassel, a chance de parar de lecionar e se esbaldar na fartura. Em Rip Van Winkle temos um homem:

“[...] que era um daqueles mortais felizes, de temperamento tolo ou tranquilo, que encaram o mundo com leveza, comem pão branco ou integral, o que puderem obter com o menor esforço, e preferem morrer de fome com um centavo a trabalhar por uma libra” 

- Página 96.

Em "O Noivo Espectral", temos uma porção de figuras pobres que utilizam da bajulação para conseguir o alimento de cada dia. Sobre "O Diabo e Tom Walker", acho que nem preciso dizer nada, certo? O personagem se vendeu para o capiroto em troca de money e sucesso.


 As mulheres infernais: a outra semelhança se vê entre os escritos "Rip Van Winkle" e "O Diabo e Tom Walker". Trata-se das relações matrimoniais conturbadas, onde a figura da esposa é sempre a de uma megera: no primeiro conto temos uma mulher que agride fisicamente e verbalmente o marido, enquanto no segundo vemos uma personagem tão inescrupulosa quanto seu parceiro. Em ambos, o sumiço das mulheres não causa comoção.

“Uma esposa rabugenta pode, portanto, em alguns aspectos, ser considerada uma bênção tolerável. Se assim for, Rip Van Winkle foi muitíssimo abençoado.” 

- Página 93.


“[...] mas que coragem pode suportar os tormentos e terrores persistentes da língua de uma mulher?"

- Página 97.


“Sua mulher [de Tom] era tão miserável quanto ele; os dois eram tão mesquinhos que até conspiravam para enganar um ao outro.” 

- Página 154.


“Céus - disse ele de si para si -, o Velho Scratch deve ter passado por maus bocados!” 

- Fala de Walker, quando descobre que sua esposa enfrentou o diabo, p. 162.


 A força da crendice popular: é muito mágico ver que em todos os contos de Irving há essa tradição típica dos séculos passados, em que os mais velhos sentavam em rodas para contar histórias de seu povo e dos ancestrais da terra que habitavam. Seria talvez como a lenda do nosso boto cor de rosa? Há pessoas que acreditam fielmente em sua existência e outras que apenas consideram como uma ficção. Não sei, só acho muito lindo 💓




Washington Irving nasceu em 3 de abril de 1783, em Nova Iorque. Chamado de o "primeiro homem Americano das Letras", foi um dos primeiros autores estadunidenses a ser respeitado na Europa. Escritor, diplomata, historiador, escreveu as biografias de Cristóvão Colombo e George Washington, além de vários contos que o consagraram como um dos maiores literários do século XIX. Foi ministro dos Estados Unidos da Espanha de 1842 a 1846, vindo a falecer em 28 de novembro de 1859.



Washington Irving. Disponível em:  <https://www.britannica.com/biography/Washington-Irving>


Biblioteca Digital Mundial: Washington Irving. Disponível em: <https://www.wdl.org/pt/item/1518/> 

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