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Conhecendo: “A Pequena Sereia & O Reino das Ilusões”, de Louise O’Neill


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Pela primeira vez um livro da DarkSide aqui em nosso blog 😊 Estou muito feliz e animada para apresentar para vocês “A Pequena Sereia & O Reino das Ilusões”, de Louise O’Neill, mas vamos por partes: antes de tudo é necessário dizer que comprei este livro sem fazer ideia do assunto que abordava. Claro que sabia da relação com o conto original da Pequena Sereia, contudo o adquiri pela beleza da capa, sem ler a sinopse. Então adivinhem a surpresa quando vi que a autora traz as cores do feminismo para esse conto de fadas clássico? Pois é, só tenho uma palavra para descrever o que senti: amei 💗💗
Calma, calma, que irei explicar direitinho nesse post todos os pontos altos dessa obra incrível que a Caveira tem em seu catálogo desde 2019. Já vou avisando que conterá spoilers, então, se preferir, assista os vídeos aqui embaixo que fiz para o nosso canal no YouTube (apresento o livro, sem revelar muito da história) 😉



Dados Técnicos

Título original: The Surface Breaks (2018)
Autora: Louise O’Neill
1ª Edição da Darkside, capa dura
Tradução: Fernanda Lizardo
Ficção irlandesa, 224 páginas

> Há tanto a ser comentado sobre a obra, entretanto tentarei ser o mais breve possível. A edição feita pela DarkSide é super fofa e, como já falei, foi o motivo pelo qual adquiri o livro (vocês também compram só pela capa??). Mas não ache que é só um rostinho bonito, pois a escritora irlandesa, Louise O’Neill, traz toda a brutalidade presente no conto de Hans Christian Andersen, mas com um olhar crítico à realidade vivida por muitas mulheres em nosso mundo. Por meio de sua alegoria ao reino das sereias, onde as fêmeas são sempre silenciadas pelo poder dos homens, ensinadas a obedecer e nunca falar sem serem chamadas (expor sua opinião é algo impensável), a autora dá voz a milhões de mulheres que são oprimidas diariamente, despertando a autoconfiança (a fé em si mesmas) que anos de repressão tentou derrubar. Sua Pequena Sereia, que escolhe morrer ao final da obra, traz força e poder ao sexo feminino, rompendo com os padrões de seu mundo e iniciando uma revolução no fundo do mar (e em nossos corações).


“Os erros que Gaia está fadada a cometer ganham uma nova amplitude nesta releitura, trazendo justiça à uma personagem centenária, mas mais do que isso, mostrando que padrões podem ser rompidos, superfícies podem ser quebradas e que uma mente fortalecida e consciente é imensamente poderosa – e assustadora para quem estava acostumado a dominar.” 

- Mensagem das editoras em Sobre sereias, mulheres e contos de fadas sombrios, no início do livro.


Já comecei contando o final 😶 Perdoem, mas avisei que teria spoiler. Vou passar para a apresentação dos personagens principais, assim tento segurar meus dedinhos linguarudos e ficará mais fácil de conversar sobre a história:

 

Gaia / Muirgen: nossa pequena sereia, uma jovem curiosa de 15 anos. É a filha mais nova do Rei dos Mares, que anseia por conhecer os seres humanos. Sempre questiona sua avó sobre o desfecho de sua mãe e as regras do seu mundo, como o fato de nunca poder falar o que realmente pensa. Seu nome Gaia foi uma escolha materna, por isso sua pronúncia é proibida pelo rei.

Thalassa do Mar Verde: avó materna de Gaia. Não nasceu na realeza, embora seja de uma família aristocrática e muito respeitada. Obediente ao Rei dos Mares, segue todas as regras, sempre tentando apaziguar e "confortar" suas netas (escrevo confortar entre aspas, pois ao mesmo tempo que serve de ombro amigo, tenta fazer as meninas aceitarem e cumprirem todos seus deveres como princesas - obediência e submissão, melhor dizendo).

Rei dos Mares: pai de Gaia e, como o próprio nome sugere, o comandante de todo o mar. Trata as filhas como objetos, tendo que tudo ser feito para seu agrado. Não gosta do mundo da superfície, uma vez que perdeu sua esposa para um humano. É opressor e mentiroso, sempre ignorando a opinião das mulheres de sua família (de todas as mulheres, para ser sincera).

Muireann do Mar Verde: mãe de Gaia. Casou com o Rei dos Mares quando era adolescente, como uma promessa pelo cessar-fogo da guerra que houve entre as Salkas e os sirênicos durante 10 anos. Muireann sempre foi curiosa e apaixonada pelos humanos, fazendo visitas recorrentes à superfície. Segundo conta seu esposo, no aniversário de 1 ano da Gaia, Muireann desapareceu após ser raptada por um homem num barco (mas isso está muito longe de ser a verdade). Após o incidente, seu nome foi banido do Mar.

Oliver Carlisle: a paixão de Gaia. Um humano de 21 anos, bonito e charmoso, que a pequena sereia vê em sua primeira ida à superfície. É o motivo pelo qual decide abandonar as pernas. É um cara até que legal, mas não merece muitas palavras nesse meu texto.

Zale: um dos personagens mais asquerosos do romance. Só sabe falar sobre guerra e desejar o sangue das Salkas. Poderia ser irmão do Rei, já que suas idades são próximas (da casinha dos 60). É o noivo de Gaia (isso mesmo, NOIVO 😡), mas causa arrepios na menina. Tão opressor quanto o Rei dos Mares.

Talia, Cosima, Sophia, Nia e Arianna: são as irmãs de Gaia. Talia é a mais velha, sendo a mandona do grupo; Cosima era a mais próxima de Muirgen, até esta fazer 12 anos e Zale a escolher como noiva. Cosima estava prometida ao velho desde que nasceu e, a partir do momento que foi deixada de lado por ele, tem atormentado os dias de Gaia; Sophia é a mais tranquila, tentando sempre acalmar as irmãs; Nia se sente deslocada por gostar de meninas (e infelizmente não pode comentar isso com ninguém, então passa os dias a observar a janela); Arianna é a humanitária do grupo, tentando sempre ajudar os mais necessitados.

Salkas: ou Rusalkas, são humanas que afundaram no mar e, de alguma forma, conseguiram respirar debaixo d'água. Elas são chamadas pela Thalassa de "garotas afogadas", sendo protegidas pela Bruxa do Mar. As salkas costumam cantar para atrair os homens para a morte, uma vingança por terem sido abusadas, maltratadas (e tudo de pior que puder imaginar) pelo sexo masculino enquanto estavam vivas. São as criaturas que considero mais fortes e, ao mesmo tempo, sinto mais pena.

Ceto: ou como a conhecemos (e o Rei adora frizar), Bruxa do Mar. Vive no Mar de Sombras, um local proibido para os sirênicos. É diferente de todas as outras sereias que Gaia conhece, tanto no quesito físico quanto em sua personalidade. É uma mulher forte que faz o que quer, o que desafia o poder de seu irmão, o Rei dos Mares.


“Eu nunca vi uma mulher deste tamanho. Toda sereia na corte ouve que devemos manter um certo peso devido à preferência estética do Rei dos Mares e de seus tritões. Eu nem sabia que era permitido que tal forma física ao menos existisse.” 

- Pensamento de Gaia, p.87, ao conhecer Ceto. Louise fazendo sua cutucada aos padrões de beleza que nos são impostos ao longo da vida.


Se você já assistiu o filme produzido pela Disney em 1989, conhece o básico da história da Pequena Sereia, então vamos resumir nossa análise do livro para: sim, ela se apaixona por um humano; procura a Bruxa do Mar desejando ter pernas, mas aqui paga altos preços (sua língua é cortada e toda vez que anda parecem ter ferros e espinhos apertando seus pés, o que a faz sangrar); ela tenta conquistar o boy magia, contudo na versão de O’Neill, a grande conquista da Pequena Sereia não é seu casamento com felizes para sempre, mas sim a descoberta de seu verdadeiro poder, sua voz, transformando a maneira como vê a si e suas irmãs.

Temos conhecimento de toda a história a partir do ponto de vista da própria Gaia, uma vez que ela narra os fatos. Sua busca e sofrimento pelo “humano de sua vida” é o caminho necessário para a descoberta de si mesma. Embora nosso coração pese um pouco com o desfecho, onde a protagonista comete suicídio para se tornar uma Salka e dedicar a vida a vingar as mulheres, punindo os homens, não poderia haver um final mais feliz para a obra de O’Neill. A abdicação de sua vida em prol da causa em que acreditava, faz de Gaia uma heroína para seu povo, além de despertar nos leitores uma reflexão a cerca de nossa realidade e papel na sociedade.

Gostei bastante da obra! A leitura é bem fácil e rápida, fazendo bastantes questionamentos ao nosso íntimo. Também adorei conhecer um pouco mais sobre a mitologia irlandesa na figura das Salkas, criaturas até então desconhecidas por mim. Além de ser um livro que vai deixar a sua estante ainda mais linda, “A Pequena Sereia & O Reino das Ilusões” é capaz de despertar sua voz interior, que clama por ser ouvida. Abaixo seguem mais alguns trechos da obra. Deixem todos seus desabafos e opiniões aqui nos comentários. Até o próximo livro!

 

“Tradicional? E o que é tradicional? Seu pai julga que minhas Salkas também são ‘anormais’, e o que elas são senão garotas afogadas? Ele crê ser tudo o que é tradicional e correto, e qualquer um com inclinações diferentes é julgado como pervetido só para ele provar que está certo.” 

- Ceto conversando com Gaia, p.93.


“É incrível como fui presunçosa ao abrir mão da minha voz; e quão pouca importância eu dava a ela. Desde que fui silenciada, tudo o que quero é poder falar” 

- Gaia, p.144.


“Mas diziam que esses poderes não eram para uma sereia. Diziam que nenhum tritão iria querer ficar conosco se fôssemos mais poderosas do que eles. Advertiam que nossos poderes nos tornavam indiscretas demais. Muito incômodas. E assim as mulheres se tornaram comedidas porque nos foi prometido que seríamos mais felizes assim. E nossos poderes foram perdidos.”

-  Ceto, p.201.


OBS.: Esqueci de comentar sobre Lorelai (p.39), uma sereia que foi abandonada pelo marido, tendo que cuidar sozinha dos filhos. Como sempre, ela carregou a culpa do término, sendo temporariamente banida do reino, enquanto seu esposo permaneceu na sociedade com toda glória e pompa. Lorelai só conseguiu retornar ao palácio por ter uma linda voz que agradava o Rei dos Mares, em outras palavras, sua presença só era permitida por ser útil aos homens. Novamente, O’Neill cutucando a ferida...




Louise O’Neill nasceu em 1985 em West Cork, na Irlanda. Atua como jornalista e escritora, publicando artigos em diferentes magazines sobre feminismo, moda e cultura pop. Em 2014 publicou seu primeiro livro, “Only Ever Yours”, o que lhe rendeu o Sunday Independent Newcomer of the Year. Antes disso morou um tempo em Nova York, onde trabalhou para a revista Elle. O’Neill recebeu, entre outros prêmios, o Literature Award e o Irish Tatler Women fo the Year Awards de 2015.


Darkside Autores: Louise O'Neill. Disponível em: <https://www.darksidebooks.com.br/louise-oneill/p>


Entrevista De Frente com Valkirias: Louise O'Neill. Disponível em: <https://valkirias.com.br/de-frente-com-valkirias-louise-oneill/>

Couto, Mia. O Futuro por Metade. In.: E se Obama fosse africano? Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1963105/mod_resource/content/1/E%20Se%20Obama%20Fosse%20Africano_%20-%20Mia%20Couto.pdf> 

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