O que Fernando Pessoa escreve pertence a duas categorias de obras, a que poderemos chamar ortónimas e heterónimas. Não se poderá dizer que são anónimas e pseudónimas, porque deveras o não são. A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora de sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.
- Tábua Bibliográfica*
> Se você leu a citação acima e não entendeu bulufas do que Fernando
Pessoa está falando, calma que o
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está aqui para ajudá-lo. Talvez o termo pseudônimo lhe seja
familiar, mas e heterônimo? Ou ortônimo? Essas nomenclaturas podem
parecer estranhas, entretanto estão todas relacionadas à forma de
chamar uma pessoa. Confira nesse post as diferenças entre elas e mais:
saiba o que é nome artístico, apelido e hipocorístico.
Heterônimo e Ortônimo
Fernando António Nogueira Pessoa (ou só Fernando Pessoa) é o que
chamamos de ortônimo, pois se trata do nome verdadeiro do escritor. Já
heterônimo é a denominação dada aos nomes assumidos pelo ortônimo. Sei
que parece maluquice, mas vou explicar em detalhes: Pessoa já assinou
trabalhos como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Estas três
personalidades são chamadas de heterônimos e ganham vida através de
Pessoa. Os heterônimos não são apenas nomes colocados no papel, são seres
com biografia, pensamentos e entendimentos de mundo próprios, que se
diferem entre si e entre seu ortônimo, Fernando
Pessoa.
OBS.: Muitos foram os heterônimos de Pessoa, contudo vale abrir um parênteses para Bernardo Soares, considerado pelo autor seu semi-heterônimo, uma vez que não era uma personalidade diferente da sua,
mas uma vertente dela, como se fosse ele em um estado inebriado, de menos raciocínio e que produz prosas (as quais amo de paixão).
Pseudônimo e Nome Artístico
Provavelmente você já ouviu falar em Machado de Assis, mas sabia
que o autor escreveu crônicas sob os nomes de Boas Noites, João das Regras e
Dr. Semana? Esses nomes fictícios escolhidos e adotados
por Machado são o que chamamos de pseudônimos, geralmente usados
quando o indivíduo deseja ter sua verdadeira identidade
preservada. No meio literário, a utilização
desse artifício denominativo geralmente se deve ao desejo do escritor em
lançar obras de gênero diferente da sua escrita corrente ou que sejam
polêmicas. Os pseudônimos foram muito usados por mulheres no
passado, como o caso das irmãs Charlotte, Emily e Anne Brontë que assinaram seus romances
como Currer, Ellis e Acton Bell, respectivamente, já que em suas épocas seria impensável ao público uma mulher escritora.
Caso a identidade do dono do pseudônimo seja revelada sem o
consentimento do mesmo, há a possibilidade de uma ação jurídica, como
ocorreu com
J. K. Rowling (idealizadora da saga "Harry Potter"), quando revelaram
que Robert Galbraith, autor de "O Chamado do Cuco", era
seu pseudônimo.
OBS.: Durante a ditadura militar no Brasil, na década de 70, Chico Buarque usou o pseudônimo Julinho da Adelaide para evitar ser
reconhecido pela censura.
Se o pseudônimo existe para resguardar a identidade de uma
pessoa, o nome artístico é uma forma de evidência: embora
também seja um nome fictício, é de amplo conhecimento a quem ele se
refere. Seria uma espécie de pseudônimo pelo qual o artista será conhecido
em seu meio profissional. Este é o caso, por exemplo, da cantora Lana del
Rey (batizada como Elizabeth Grant) ou da nossa talentosa atriz Fernanda
Montenegro (Arlette Pinheiro Monteiro Torres). A opção por um nome artístico pode se dar por diferentes fatores, entre eles: desejo de
separar vida pública da privada, procura por originalidade e destaque,
evitar nomes pouco atrativos e por aí vai.
Apelido e Hipocorístico
Quem nunca colocou apelido em um coleguinha de escola que
atire a primeira pedra. Tanto crianças quanto adultos têm o costume de
chamar seus amigos por nomes derivados de características físicas,
personalidade e gostos. Podemos citar o caso do escritor Gregório de
Matos, alcunhado de Boca do Inferno devido sua forma de escrita
"acalorada", por assim dizer.
Quando o apelido é constituído a partir do nome do indivíduo, chamamos
isso de hipocorístico, forma íntima e carinhosa pela qual é
conhecido no meio familiar. Veja, por exemplo, o personagem Bento
Santiago, de Machado de Assis, cujo apelido é Dom Casmurro, mas tratado
pelos seus parentes como Bentinho, seu hipocorístico.
OBS.: Há casos em que o hipocorístico ultrapassa o meio familiar e se
transforma na maneira pela qual a pessoa é identificada por aqueles não ligados a sua
vida íntima, como ocorreu com o ex presidente Lula. Isso permite adicionar o
hipocorístico ao nome civil (entenda melhor em
Manual de Direito Civil).
>>> E você? Tem algum apelido ou nome artístico? Compartilhe conosco
nos comentários 😘
Perez, Luana Castro Alves. Diferenças entre heterônimo e pseudônimo. Disponível em: <https://www.portugues.com.br/gramatica/diferencas-entre-heteronimo-pseudonimo.html>
Casa Fernando Pessoa. Obra. Disponível em: <https://www.casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/obra/fernando-pessoa>
. Ortónimo (Ort Dulceônimo em português do Brasil). Disponível em: <https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/ortonimo-ortonimo-em-portugues-do-brasil/>
Pessoa, Fernando. Carta a Adolfo Casais Monteiro. Disponível em: <http://arquivopessoa.net/textos/3007>
Soares, Jessica. Oito escritores e seus pseudônimos (que você
provavelmente ainda não conhecia). Disponível em: <https://super.abril.com.br/blog/superlistas/8-escritores-e-seus-pseudonimos-que-voce-provavelmente-ainda-nao-conhecia/>
Luiz, Ademir. De Chico Buarque a George Eliot: 10 mestres na arte
do pseudônimo. Disponível em: <https://www.revistabula.com/32417-de-chico-buarque-a-george-eliot-10-mestres-na-arte-do-pseudonimo/>
Revista Cult. Dez autoras que publicavam sob pseudônimos masculinos. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/10-autoras-que-precisaram-de-pseudonimos-masculinos-para-publicar-suas-obras/>
Colleti, Caio. Oito famosos com nomes artísticos revelam de onde
tiraram os pseudônimos. Disponível em: <https://observatoriodocinema.uol.com.br/listas/2018/04/10-famosos-com-nomes-artisticos-revelam-de-onde-tiraram-os-pseudonimos>
Seide, Márcia Sipavicius. Amaral, Eduardo Tadeu Roque. Tipologia dos antropônimos. In: Nomes Próprios de Pessoa: Introdução à Antroponímia Brasileira.
Editora Blucher, 2020.
Faria, Cristiano Chaves de. Sobre o nome: confusão entre apelido,
hipocorístico, pseudônimo, heterônimo e sua necessária
proteção. Disponível em: <https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2018/08/24/sobre-o-nome-confusao-entre-apelido-hipocoristico-pseudonimo-heteronimo-e-sua-necessaria-protecao/>
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