Saiu hoje o resultado do Concurso InVerso de Contos e Crônicas 16 anos.
De 06/02 a 10/03, a Editora Inverso abriu as inscrições de contos e crônicas que refletissem o significado de "16 anos". Os textos poderiam tratar diferentes assuntos dentro do tema, como, por exemplo, responder às perguntas: como você espera que seja a sua vida, o país e, até mesmo, o mundo daqui a 16 anos? Como é ser um garoto ou garota aos 16 anos hoje? Quais as descobertas dos adolescentes de 16 anos que se diferenciam da época em que você tinha esta idade?
> O concurso é uma comemoração aos 16 anos de existência da empresa. Os 17 textos selecionados (sim, 17) farão parte de um livro a ser lançado na festa de aniversário da editora. Tem gente do Brasil todo 😊 E por que estou contando isso pra vocês? Porque eu participei com o conto abaixo 👇 Infelizmente ele não foi selecionado, contudo adorei relembrar um pouco dos meus 16 anos. Espero que gostem ❤ (posso não ter ganho o concurso, mas o conto emocionou minha amiga/fada 😍)
Páginas de uma adolescente
Está
pronto? Esquece. Acho que nunca estamos prontos, pergunta mais boba.
Eu, eu quero lhe contar a história real, mas não pode desacreditar,
ok? Não sou mais criança, mesmo assim, ainda tenho aquela pequenina
dentro de mim. Ah! Ela era tão determinada, apaixonada... Ei! Pode
parar de me chamar de louca e fazer essa cara feia. Quem mandou você
perguntar como foram meus 16 anos? Agora estou namorando a memória
de mim mesma. Tá legal, eu sou doida, contudo, isso todo mundo
sempre soube. O que ninguém desconfia são os segredos do meu
coração que escondi nas páginas dos livros que li na minha
mocidade. Vou lhe contar tudo, será nosso segredinho:
Era
uma vez... uma menina baixinha cheia de sonhos (isso é o
que não falta para os jovens: sonhos. Graças a Deus!). Desde cedo
ela quis ser atriz. Montava peças com suas primas para apresentar à
família, mas, como a cidade onde morava não tinha escola
especializada e seus pais não possuíam recursos financeiros, ela
deixou de lado essa fantasia. Aos 12 anos revelou aos pais que queria
ser escritora. Empenhou dias e mais dias em criar histórias, porém
a incerteza de ser boa o suficiente a fez abandonar a escrita,
sobrando apenas alguns rascunhos para dar gosto à lembrança. Então,
vieram os 16 anos…
Deve
estar se perguntando: o que sobrou depois de tudo? Não se preocupe,
ela sempre foi uma garota forte. Seus livros eram como guerreiros
armados sempre prontos para enfrentar a adolescência ao lado de sua
leitora voraz. Eles eram seu escudo, sempre migrava de um a outro,
passando noites em claro a explorar diferentes mundos, vidas e
sonhos. Em meio a uma fase tão cheia de mudanças, os textos eram
sua única constante. Infelizmente, esquecia que algumas mudanças
podiam ser boas…
Acredita
que ela sempre enxergava o cachorro preto do colégio como Sirius
Black? Para ela, o au au estava ali para visitá-la e protegê-la.
Quando se sentia sozinha, imaginava as pessoas dançando e cantando
em cima das mesas do refeitório, como em um musical. Parece uma vida
vazia? Não, não era. Haviam amigos e não só do tipo imaginários.
É que, certas coisas são melhores compreendidas no silêncio de uma
nova leitura ou num choro soluçado na hora do banho... quem sabe.
Ela era feliz assim.
O
drama fazia parte, quem não acha que uma pessoa dessa idade adora
ser dramático? Na realidade, para ela não era drama, era a sua
verdade. Também suas preocupações eram reais: tirar boas notas,
orgulhar os pais, tomar alguma decisão sobre o futuro, descobrir
quem ela realmente era (essa pergunta ecoa em mim até hoje, se quer
saber). Contudo, acho que essas dúvidas são normais nessa fase, o
que não quer dizer que sejam fáceis (ó, não, pelo contrário),
elas possuem uma complexidade... principalmente quando os hormônios
estão a flor da pele.
A
é, esqueci alguns detalhes. Ela era conhecida como a garota que
transava com livros, apelido que um professor concedeu em frente a
toda a sala. Nesse batizado ela se sentiu envergonhada e brava, mas
sabe, ele estava certo. Nada a deixava mais feliz como uma boa
história. Seu corpo todo vibrava com as façanhas de Tristão,
Catarina, Percy, Ulisses, Hermione e muitos outros e outras
personagens (até um Casmurro). Para ela, esse tipo de amor era
suficiente. Não ligava para os meninos de sua sala. Ou era isso que
ela pensava.
Como
em todo fairy tale, a jovem tinha uma fada madrinha: sua melhor
amiga, alguns meses mais nova, com uma sabedoria de dar inveja. Havia
um príncipe em meio a tantos sapos, um que nossa heroína realmente
amava. Ele era fofo e adorava ler, seus papos eram inteligentes e
interessantes. Só que ela, fechada em seu mundo imaginário,
deixou-se enganar e cegar para aquela nova possibilidade. Adivinhem
quem a ajudou? Sua amiga/fada. Nunca vou esquecer a metáfora
utilizada pra explicar a situação: a amiga/fada disse que a outra
estava com uma panela deliciosa de brigadeiro na mão, entretanto,
jogava tudo na pia a sonhar com o gosto.
Não
tardou para ela crer que aquele amor era real. Embora tivesse
temores, lambuzou-se de brigadeiro. Contar para os pais foi uma
tensão... boba, pois eles aceitaram bem (adoravam o príncipe) e
assim, eles viveram felizes para sempre. Fim. Brincadeira, nós ainda
estamos vivos e não somos felizes todos os dias, às vezes é
preciso ficar triste pra valorizar os momentos de alegria. A jovem
namorou, casou e sim, está tentando ser o melhor que pode, mas ainda
não terminei de contar sobre sua adolescência.
As
incertezas são as que mais consomem energia de um jovem. Por isso,
buscar refúgio na leitura sempre foi comum para ela. Haviam tantas
perguntas novas: Como controlar os desejos? Como agir quando suas
mãos querem tocar o outro e não só folhas de livros? Como fazer
tudo isso sem que realize algo inapropriado? Na verdade, o que é
inapropriado? Ter 16 anos quando se namora com uma pessoa real e não
um personagem, é uma dificuldade que a afligiu (e quantos já não
passaram por isso?).
A
descoberta dos desejos. Ai, ai, como falar sobre masturbação
feminina quando até suas amigas evitavam conversar? Isto sempre a
deixava sem graça: as meninas se limitavam ao que era socialmente
aceito, mesmo tendo dúvidas e necessitando de conselhos. A vergonha
de anos causada por ensinamentos de recato, era uma pedra no meio do
caminho da satisfação. Sorte que ela tinha sua amiga/fada. Com ela,
não havia vergonha ou segredos. Havia uma zona de compreensão (será
que as garotas de hoje têm alguém assim?? Espero que sim).
Em
meio a percalços, experimentos, choros e risadas, ela sobreviveu à
época da adolescência. Ou melhor, ela VIVEU. Você deve estar se
perguntando se os livros ficaram com ciúmes. Não ria, é feio. Acho
que não, afinal, ela nunca os abandonou. Eles ainda eram seu porto
seguro, contudo agora tinham mais significado: as novas experiências
agregaram novos valores a suas histórias. Nada nunca mais seria
igual, mas quer saber, isso era surpreendentemente bom.
Está
feliz em conhecer meus 16 anos? Não faça esse olhar de incrédulo.
Se não quer acreditar, não acredite. Esta é sua opinião e eu
respeito. A única coisa que quero saber agora é um bom creme pra
acne, pois posso ter envelhecido, mas as espinhas da minha mocidade
ainda estão aqui comigo. Sera que é falta de juízo? Li num
livro...
Regulamento - Concurso InVerso de Contos e Crônicas 16 Anos. Disponível em: <https://c8789a63-933a-4fd5-a281-12b9a604cd5f.filesusr.com/ugd/831b77_773ed7a880c34cc0908c978790b27909.pdf>
Concurso Inverso de Contos e Crônicas - 16 anos. Disponível em: <https://www.editorainverso.com.br/concurso>
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