Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. | Ficha Técnica: Total de versos: 21 ( versos livres e brancos ) |
Interpretando o Texto:
"Retrato do artista quando coisa" - podemos analisar o título do poema segundo dois viés: 1º) a representação de um artista enquanto executa sua arte (coisa como uma ação); 2º) processo de coisificação do homem (Retrato do artista "enquanto é coisa").
Logo no início do poema depreendemos que o eu lírico considera-se rico, uma vez que não atingiu a plenitude, já que alega que "A maior riqueza / do homem / é sua incompletude. / Nesse ponto / sou abastado.". Contrariando o senso comum que sempre está atrás de se sentir inteiriço, por meio de sua cara metade, aquela busca interminável por sucesso profissional, por felicidade, que os tornam completos.
O eu lírico continua seu raciocínio, alegando não gostar do que é previsível, socialmente aceito, como os rótulos ("Palavras que me aceitam / como sou / - eu não aceito."). Seu desapreço se estende às rotinas e aos padrões que são esperados dele ou comuns para as demais pessoas. Neste ponto "Não aguento ser apenas / um sujeito que abre / portas, que puxa / válvulas, que olha o / relógio", nota-se uma semelhança com o filme "Tempos Modernos", de Charlie Chaplin, com a industrialização e a mecanização do tempo, resultando nessa coisificação do homem expresso no título do poema. O eu lírico prossegue alegando que não pode ser desta forma genérica, pois deseja ser diferente, múltiplo ("Perdoai. Mas eu / preciso ser Outros."). Encerra afirmando: "Eu penso / renovar o homem / usando borboletas.", expressando sua capacidade de inovar a partir da simplicidade; assim como a borboleta passa pela metamorfose, a poesia de Manoel de Barros é transformadora.
OBS: Vale ressaltar que o uso de versos sem métrica e rima se contrapõem aos padrões literários que durante anos foram impostos ao gênero lírico.
Logo no início do poema depreendemos que o eu lírico considera-se rico, uma vez que não atingiu a plenitude, já que alega que "A maior riqueza / do homem / é sua incompletude. / Nesse ponto / sou abastado.". Contrariando o senso comum que sempre está atrás de se sentir inteiriço, por meio de sua cara metade, aquela busca interminável por sucesso profissional, por felicidade, que os tornam completos.
O eu lírico continua seu raciocínio, alegando não gostar do que é previsível, socialmente aceito, como os rótulos ("Palavras que me aceitam / como sou / - eu não aceito."). Seu desapreço se estende às rotinas e aos padrões que são esperados dele ou comuns para as demais pessoas. Neste ponto "Não aguento ser apenas / um sujeito que abre / portas, que puxa / válvulas, que olha o / relógio", nota-se uma semelhança com o filme "Tempos Modernos", de Charlie Chaplin, com a industrialização e a mecanização do tempo, resultando nessa coisificação do homem expresso no título do poema. O eu lírico prossegue alegando que não pode ser desta forma genérica, pois deseja ser diferente, múltiplo ("Perdoai. Mas eu / preciso ser Outros."). Encerra afirmando: "Eu penso / renovar o homem / usando borboletas.", expressando sua capacidade de inovar a partir da simplicidade; assim como a borboleta passa pela metamorfose, a poesia de Manoel de Barros é transformadora.
OBS: Vale ressaltar que o uso de versos sem métrica e rima se contrapõem aos padrões literários que durante anos foram impostos ao gênero lírico.
*Discuti esta obra com meu marido e algumas das interpretações expostas surgiram deste diálogo.
Escritores - Manoel de Barros. Disponível em: <https://www.infoescola.com/escritores/manoel-de-barros/>
Escritores - Manoel de Barros. Disponível em: <https://www.infoescola.com/escritores/manoel-de-barros/>
Manoel de Barros. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros#Vida_pessoal>
GUTIERRE, Maria Madalena Borges. GONÇALVES, Larissa Muniz. TOMAZ, Regina Maura. Retrato do Artista Quando Coisa: Figuratividade e Sentido. Disponível em: <http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rel/article/view/1028>
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